SONHOS


Sonhos em Jung



“O sonho é uma porta estreita, dissimulada naquilo que a alma tem de mais obscuro e íntimo; essa porta se abre para a noite cósmica original, que continha a alma muito antes da consciência do eu e que a perpetuará muito além daquilo que a consciência individual poderá atingir. Pois toda a consciência do eu é esparsa; só o que pode entrar em relação com o eu é percebido. A consciência do eu, mesmo quando aflora as nebulosas mais distantes, é feita de enclaves bem delimitados. Mediante o sonho, inversamente, penetramos no ser humano mais profundo, mais geral, mais verdadeiro, mais durável, mergulhado ainda na penumbra da noite original, quando ainda estava no Todo e o Todo nele, no seio da natureza indiferenciada e despersonalizada. O sonho provém dessas profundezas, onde o universo ainda está unificado, quer assuma as aparências mais pueris, as mais grotescas, as mais imorais.”
C.G. JUNG - Psicologia em Transição

            Após ter aplicado durante alguns anos a hipnose e a livre associação, Jung considerou a análise dos sonhos o meio mais eficiente de acesso aos conteúdos mais profundos do inconsciente. Como lemos no pensamento acima, eles não são um resultado direto da mente racional, consciente, logo, não há artifícios enganadores; todas as máscaras e desejos ocultos e reprimidos vêm à tona sem o menor pudor, assim como muitos conteúdos da mente arcaica da humanidade – ao qual Jung denominou Inconsciente Coletivo. É certo que os conteúdos dos sonhos nascem do inconsciente no sentido de compensação psíquica, mas seu fim último e maior é a realização da consciência no processo de individuação.

Analisemos este comentário de Jung: “A técnica psicanalítica necessita, em certos casos, do acesso ao Inconsciente. E a pergunta é: Qual o caminho mais rápido e seguro para se chegar ao inconsciente? O primeiro método aplicado foi a hipnose: o paciente era interrogado em estado de concentração hipnótica, ou então era induzido à produção espontânea de fantasias, no mesmo estado.” Jung achava, já naquele tempo, obsoleto e, muitas vezes, insatisfatório o processo de hipnose como meio de acesso ao inconsciente.  Freud na realidade foi o primeiro a abandonar, optando pela interpretações dos sonhos e Jung chegam posteriormente às mesmas conclusões.

            Após analisar milhares de sonhos durante sua longa carreira como médico psiquiatra, Jung chega à várias conclusões, entre as quais a que “os sonhos não são imagens perdidas na nossa mente, mas constituem um material importantíssimo no processo de individuação”. E mais. Na análise dos sonhos, constatou que eles seguiam uma seqüência significativa, sendo as experiências da consciência no onírico não imagens soltas e sem nexo, mas revelações de um continuum em evolução e em constante transformação. Assim como no estado de vigília temos nossas metas e objetivos, no mundo onírico os sonhos teria uma continuidade e um sentido capaz de ser revelado através das interpretações e da compreensão genuína de seu aparecimento.
           
Após alguns anos de pesquisa às obras de Jung reuni algumas citações sobre sonhos, ao qual aqui ofereço aos leitores.


SOBRE A NATUREZA DOS SONHOS

 “O sonho é feito de detalhes aparentemente pueris, que despertam uma impressão de algo ridículo, ou então é de tal modo incompreensível em sua superfície, a ponto de deixar-nos desorientados. Por isso devemos sempre superar em nós mesmos uma certa resistência antes de conseguirmos desatar seu enredo complicado, através de um trabalho paciente. Quando penetramos no verdadeiro sentido de um sonho, mergulhamos profundamente no segredo do sonhador e descobrimos com espanto que seu aparente absurdo é significativo ao mais alto grau e sua linguagem fala apenas das coisas extraordinariamente importantes e sérias da alma. Tal descoberta faz-nos sentir mais respeito pela velha superstição de que os sonhos têm um significado desconhecido, até agora, pela corrente racionalística do nosso tempo.”  Psicologia do Inconsciente

SOBRE A INTERPRETAÇÕES DOS SONHOS

                        “A arte de saber interpretar sonhos não se aprende nos livros. Métodos e regras são bons quando a gente consegue se virar também sem eles. Um verdadeiro saber só o tem quem sabe, e bom senso só o tem o sensato. Quem não se conhece a si mesmo não pode conhecer o outro. E em cada um de nós existe também um outro que nós não conhecemos. Fala-nos pelo sonho e nos diz quão diferente ele nos vê do que nós nos vemos. Se nos encontramos, pois, em situação de difícil solução, o outro estranho pode acender uma luz que muda radicalmente nossa atitude, exatamente aquela atitude que nos levou à situação difícil.” JUNG

SONHOS E O SI-MESMO

“Ocupar-se com os sonhos é uma espécie de tomada de consciência de si. Não é a consciência do eu que se dá conta de si mesmo, mas ocupa-se com o dado objetivo do sonho como um comunicado ou mensagem da psique inconsciente e oni-unitiva da humanidade. A gente se dá conta não do eu, mas sim daquele si-mesmo estranho que nos é próprio, que é nossa raiz da qual brotou, em dado momento, o eu. Ele nos é estranho porque dele nos alheamos através do extravio da consciência”. Psicologia do Inconsciente

“ Os símbolos do centro representam a meta. O desenvolvimento desses símbolos equivale mais ou menos ao processo de cura. O centro, isto é, a meta, tem portanto um sentido de salvação, na acepção própria desta palavra. A justificativa de uma tal terminologia decorre dos próprios sonhos que contêm muitas referências ao tema dos fenômenos religiosos. Parece-me claro que tais processos implicam os arquétipos formadores de religiões. Qualquer que seja a natureza da religião, não resta a menor dúvida de que seu aspecto psíquico, empiricamente constatável, reside nessas manifestações do inconsciente.” Psicologia e Alquimia

SOBRE O SIMBOLISMO DOS SONHOS

“A função compensatória se manifesta em conjunto de materiais psíquicos bem definidos, como por exemplo em sonhos, nos quais nada de ‘simbólico’ se encontra, como tampouco num chifre de bode. Para desvendar seu caráter simbólico, é necessária uma disposição consciente bem específica, a saber, a vontade de entender o conteúdo do sonho como simbólico. De início, como mera hipótese, deixando que a experiência da vida venha a decidir se é útil ou necessário, ou recomendável entender simbolicamente os conteúdos dos sonhos, em vista de uma orientação de vida”. Psicologia em Transição

SONHOS E O INCONSCIENTE

 “A repetição do sonho exprime a insistência do inconsciente em conduzir o conteúdo do sonho para a consciência.” Sincronicidade

SONHOS E SOMBRA

O inconsciente pessoal contêm lembranças perdidas, reprimidas (propositadamente esquecidas), evocações dolorosas, percepções que, por assim dizer, não ultrapassam o limiar da consciência (subliminais), isto é, percepções dos sentidos que por falta de intensidade não atingiram a consciência e conteúdos que ainda não amadureceram para a consciência. Corresponde à figura da sombra, que freqüentemente aparece nos sonhos. Psicologia do Inconsciente

SONHOS E ARQUÉTIPOS

 “Cada vez que um arquétipo aparece em sonho, na fantasia ou na vida, ele traz consigo uma ‘influência’ específica ou uma força que lhe confere um efeito numinoso e fascinante ou que impele a ação”. Psicologia do Inconsciente


SONHOS - DIVERSOS

“Quando aconselho a meu paciente: ‘Preste atenção em seus sonhos’, quero dizer o seguinte: ‘Volte ao ser mais subjetivo, à fonte de sua existência, àquele lado onde você faz história do mundo sem o perceber. Sua dificuldade aparentemente insolúvel deve, evidentemente, ser insolúvel para que você não continue procurando remédios que sabemos de antemão serem ineficazes. Os sonhos são expressão de seu ser subjetivo e, por isso, podem mostrar-lhe a atitude errônea que o levou para este beco sem saída’.” Psicologia em Transição


Alberto Maury
Psicólogo e Diretor do Instituto Órion