Independente
de idade, condição social ou cultural, a culpa é um sentimento que pode
acompanhar certas pessoas, provocando uma “tortura” emocional e mental que
poder ser evitada se houver uma clara compreensão dos acontecimentos. Esse
sentimento pode perdurar algumas horas, mas também dias, semanas e até anos, bastando
apenas que o acontecimento seja relembrado.
Estamos a
falar, obviamente, dos acontecimentos onde não houve intenção ou consciência do
mal realizado. Mesmo quando cometemos claramente um erro, somente o fato de não
termos tido o propósito de prejudicar alguém já é suficiente para amenizar o
sentimento de culpa. Falemos então daquelas pessoas que mesmo sem terem sido
completamente culpadas, persistem com o sentimento.
A primeira
coisa a compreender no processo da culpa é que ela nasce de um falso
julgamento. Ou seja, antes de surgir o sentimento de culpa uma série de
julgamentos errôneos criou uma condição para que aparecesse. Assim, após uma
avaliação posterior a um ato que realizamos ou que deixamos de realizar é que o
sentimento aparece.
Outro item
importante é a crítica, quer voltada para si mesmo ou para outros. A crítica
nunca é construtiva, assim julgo, pois a entendo mais como uma punição ou autopunição
– inconsciente - frente a um erro que a uma
proposta sincera de melhorias. O oposto da crítica é a tolerância, mas também é
importante desenvolver o reto julgamento sobre a situação e lembrar diariamente
que todos são imperfeitos e propensos a cometer erros. Indicar aos outros suas
faltas pode ser positivo se a pessoa solicitou tal feedback ou então se ela se mostrar uma pessoa aberta a receber
tais comentários. Quanto à autocrítica, via de regra, é confundida como
“auto-exigência” quando, na verdade, não o é. Muitas pessoas são extremamente
críticas consigo mesmas, mas com pouca força de vontade de realização e acabam
por não desenvolverem-se. Essa sensação de não cumprimento faz com desistam de
si mesma, atingindo negativamente sua auto-estima.
Segue agora algumas dicas
para diminuir o sentimento de culpa:
• Fazer bom julgamento
da situação. Se o mau julgamento é o que provoca o sentimento de culpa,
basta “mudar a chave” do julgamento. Ou seja, analisar os acontecimentos não se
culpando logo, mas colocando os pesos nos pratos da balança de modo mais objetivo
possível. Consultar outras pessoas neste momento pode ajudar muito em tal
avaliação, preferencialmente aquelas sem envolvimento com os fatos.
• Diminuir o
Perfeccionismo. Uma coisa é perfeccionismo, outra a busca de um auto-aperfeiçoamento
constante. A primeira gera sofrimento e frustração; a segunda, crescimento
contínuo. Lembrar sempre que aprendemos tanto nos erros quanto nos acertos e
que o mais importante é não cometermos sempre os mesmos erros.
• Reflexão sobre os
acontecimentos. De todas as experiências
podemos tirar algum aprendizado, se refletirmos com calma. Deixar-se
envolver demasiadamente pelas emoções impedirá de extrair o melhor da
experiência. Quando as emoções estão envoltas nas questões as idéias tornam-se
circulares e geram o que denomino de “pensamentos ruminantes”. Nesta situação
aparece então o estresse, cansaço, insônia, tristeza e angústia, entre outros
sintomas. Portanto, uma coisa é reflexão, outra “ruminação”. A reflexão ilumina
a mente; a ruminação a obscurece.
• Senso de
responsabilidade exagerada. Há muitas pessoas que se culpam continuamente,
pois não se permitem relaxar. Sentem-se responsáveis por todos os
acontecimentos, até aqueles aos quais não tiveram envolvimento direto. Cuidar,
então, para não assumir as responsabilidades alheias e buscar maior
flexibilidade. As águas dos rios enfrentam seus obstáculos por sua
maleabilidade.
• Não buscar culpados.
Em muitas situações não há um culpado, mas vários. Não houve um erro, mas uma sequência
de fatos que levaram a vários erros. Importante agora não é “quem”, mas “o que”
provocou o erro, para não mais cometê-lo. Quando uma aeronave nunca é por
apenas um motivo, mas sim uma multicausalidade que provoca um desastre. Em
muitos acontecimentos da vida não é diferente e a serenidade do Coração é mais
importante que as revoltas e vinganças, pois estes sentimentos liberam
substâncias tóxicas em nosso organismo.
• Erre, mas faça! Arrependemo-nos
mais do que deixamos de realizar do que aquilo que realizamos, indicam as
pesquisas em
psicologia. Pois mesmo em nossos erros procuramos encontrar as
causas e nos corrigir; porém, quando não há ação o sentimento de não ter feito é
pior e nasce a “culpa da inação”.
• Trabalhe a Auto-Estima.
O sentimento de culpa pode nascer de uma necessidade da pessoa querer ser
aceita e amada a qualquer custo. Neste caso o sentimento pode aparecer como uma
estratégia para que os outros voltem sua atenção a ela. Há de se trabalhar os
dois aspectos de forma consciente.
• Não lamentar-se demasiadamente.
Há pessoas que sentem culpa e lamentam-se da vida exageradamente. Por tornar-se
uma rotina, logo as pessoas se afastam, pois percebem que tal atitude não terá
fim. Lamentar-se da vida e culpar os outros ou a si mesmo, de modo geral,
costumam caminhar juntas. Neste caso, o melhor conselho é praticar um pouco
mais o silêncio e guardar as dores, dividindo apenas com uma ou duas pessoas de
total confiança os problemas, caso elas estejam verdadeiramente interessadas em ajudar. A ajuda profissional,
devido a impessoalidade e a disposição em escutar é sempre o mais indicado.
Concluindo :
Caminhar sem culpa, é
estar aberto à escola da vida, tendo a certeza que ainda muitos iremos errar,
mas também muito iremos acertar. O mais importante é nunca parar de tentar, nunca
deixar de experimentar. Sabe-se que Thomas Edison testou milhares de filamentos
até encontrar o apropriado para acender uma lâmpada. Se não fosse pelos milhares
de erros não teria uma lâmpada em seu quarto agora. E foi destas inúmeras
tentativas que o inspirou a afirmar que: “Não
me desencorajo, porque cada tentativa errada descartada é outro passo à
frente.” Se caminhamos sem culpa transformaremos nossos erros em experiências. Para
isso, uma boa dica também é rir um pouco mais de si mesmo e dos seus erros. É
de graça e sua saúde também agradece!
Alberto Maury – Psicólogo